Quem são e como vivem os brasileiros e brasileiras na França?

Gisele Almeida


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Depois de tanto tempo...a tese!

De 2010 a 2013, eu estive envolvida com a execução de uma pesquisa sobre imigração brasileira na França em anos recentes. 
No final de 2013 defendi a tese sobre esse tema, e ela encontra-se integralmente disponível na Biblioteca Digital da Unicamp e o link para acesso é: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000919415&opt=4
Aproveito a ocasião para mais uma vez agradecer a todos e a todas que colaboraram com a pesquisa. 
Muito obrigada!

sexta-feira, 15 de março de 2013

"Imigrantes" e "estrangeiros" brasileiros na França segundo os dados do INSEE


Durante o século XIX, o maior parceiro comercial do Brasil era a Inglaterra. Todavia, as relações comerciais e culturais com a França não eram de pouca relevância, de forma que a influência francesa foi destacável. Estudos históricos sobre a presença de franceses no Brasil no século XIX em São Paulo (tese de doutorado na USP de Vanessa dos Santos Bodstein Bivar) e no Rio de Janeiro (pesquisa de Lená Medeiros de Menezes da UERJ) registraram que a França era tomada como um “modelo de civilização” e sinônimo de “luxo”. No movimento inverso, outros autores apontaram que as elites brasileiras do século XIX iam para França para estudar ou passear. Posteriormente, na segunda metade do século XX, a França acolheu refugiados políticos brasileiros que fugiam da ditadura militar instituída com o golpe de 1964. E desde que os brasileiros começaram a sair do país em função de motivações econômicas, na década de 1980, a França tornou-se um destino possível para aqueles que migram em busca de melhores oportunidades - de vida, trabalho ou estudo.

Esta pesquisa em curso trata especificamente desta “nova onda migratória”, ou seja, interessa-se pelos brasileiros que foram para a França depois dos anos 1980. Para quem não sabe, foi nesta época que o Brasil registrou pela primeira vez fluxos de emigração (saída de brasileiros), pois historicamente somos um país de imigração (receptor de estrangeiros). Essa emigração mais massiva resultou em grande medida da grave crise econômica que assolou o país na década de 1980, e que comprometeu as possibilidades de inserção no mercado de trabalho e de mobilidade social, inclusive inviabilizando a manutenção do status social das classes médias. Os trabalhos de Teresa Sales analisam perfeitamente esse contexto.

Os primeiros destinos dos brasileiros foram Estados Unidos, Europa e Japão. E a França também começou a atrair aqueles que buscam uma formação educacional no exterior (no caso de estudantes), uma experiência profissional diferenciada (no caso de profissionais qualificados), ou ainda uma melhor remuneração salarial em certos nichos do mercado de trabalho secundário (trabalhadores com baixa ou pouca qualificação).

No entanto, com a formação do espaço de livre circulação europeu, a França potencialmente torna-se um território de passagem, trânsito e instalação para os brasileiros que foram, estão ou vão para a Europa. Este é um dos motivos prováveis para o crescimento da presença de brasileiros no território francês.

Neste texto, apresento dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos da França (INSEE) que apontam que os brasileiros são a segunda nacionalidade mais representativa dos latino-americanos, depois da haitiana, para todos os anos em que há dados deste tipo divulgados (1982, 1990, 1999 e 2008). Em 2008, os brasileiros eram um quinto da população latino-americana na condição de estrangeiros e imigrantes na França. Os imigrantes, conforme a definição do INSEE, são os brasileiros que vivem na França e nasceram no Brasil, e que obtiveram a nacionalidade francesa. Os estrangeiros são os brasileiros que moram na França

Os imigrantes brasileiros eram 5.300 em 1982 e 25.000 em 2008. Os estrangeiros também apresentaram crescimento: 3.800 em 1982 e 14.000 em 2008.


Os dados do INSEE mostram que o número de brasileiras na França é maior do que de brasileiros. A feminização da migração internacional é um fato que vem sendo reconhecido por diversos estudos contemporâneos. As mulheres representavam 59% dos imigrantes brasileiros na França em 1982 e 62% em 2008. Entre os estrangeiros, as mulheres brasileiras são também a maioria: eram 56% em 1982 e 62% em 2008.


 Quanto à idade, o INSEE divulgou dados por faixas etárias para os anos de 1999 e 2008. A grande maioria dos brasileiros que vive na França, segundo tais dados, é adulta; possui de 18 a 59 anos. Aqueles com 60 anos ou mais constituem a faixa menos representada no grupo. 34% dos imigrantes brasileiros que viviam na França em 1999 tinham menos de 18 anos. Em 2008, este valor diminuiu, e apenas 16% deles eram menores de 18 anos.

Os casamentos mistos são importantes para pensarmos a presença de brasileiros na França atualmente. De acordo com estatísticas de estado civil divulgadas pelo INSEE, em 2010 foram registrados 498 casamentos mistos entre franceses e brasileiros. Entre os casamentos franco-brasileiros, 78% dos casos eram situações nas quais a cônjuge era brasileira e o marido francês.

Os dados disponibilizados pelo INSEE não permitem um reconhecimento mais qualitativo sobre os brasileiros que vivem na França. Não há, por exemplo, informações sobre o nível de instrução, a inserção ocupacional, a renda per capita, etc. Estas informações são importantes para analisar a dinâmica desse recente fluxo de brasileiros na França. O levantamento empírico e as entrevistas realizadas como brasileiros que vivem (ou viveram) na França devem cumprir esse papel, e irão orientar e embasar os resultados da pesquisa.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Presença brasileira no sul da França


Uma temporada, ainda que breve, na França estava planejada desde a concepção inicial do projeto, no final de 2009, em função das atividades da pesquisa de campo. Também planejava "circular" pela França  porque nunca quis fazer um estudo sobre brasileiros em Paris. Apesar das dificuldades e dos limites metodológicos que resultam deste “recorte” tão grande, planejava ao menos “passar” por diversas regiões do país. No entanto, sempre pensei que ficaria “estabelecida” em Paris. Me juntava ao eco daqueles que pensam na França e pensam em Paris. Mas outros caminhos se desenharam e eu fui “parar” em Aix-en-Provence. O que eu sabia sobre a cidade? Nada, além de que certas paisagens da cidade haviam sido registradas pelos pincéis de Cézanne!

Cheguei em “Aix”, no dia 3 de maio. Sabia que havia uma brasileira que morava lá em função de um blog e só. O desafio era (além de chegar e me ambientar, num lugar em que eu não conhecia nada e ninguém!) localizar os brasileiros que vivem no sul da França.

No primeiro dia em que fui para o laboratório da Universidade, um pesquisador, colega do meu orientador francês, soube qual era o tema da minha pesquisa e me falou que havia uma brasileira que trabalhava na Universidade, e me levou até ela. Essa “brasileira de Aix” me ajudou muitíssimo, colaborando com a pesquisa, indicando-me outras pessoas. Isso sem falar o “bom dia” em português, que cai muito bem quando se está isolada em terras estrangeiras!

Esse ponto de partida da “bola de neve” - expressão usada nas Ciências Sociais para indicar o método de seleção de amostragem não-probabilística, no qual alguém indica uma ou mais pessoas, que por sua vez podem sugerir outros nomes – me levou direta e indiretamente a outros 17 brasileiros/as em Aix-en-Provence, Marseille e Montpellier que aceitaram colaborar com a pesquisa, e que me concederam entrevistas.

Durante os três meses que fiquei em Aix, tive a oportunidade de fazer 30 entrevistas nas cidades já mencionadas e também em outras pequenas cidades próximas de Aix, Toulon e Nice. E se ficasse mais tempo, com certeza teria encontrado mais brasileiros! Porque houve muitos outros contatos de brasileiros que não foi possível compatibilizar as agendas no período; e havia mais pontos de “bola de neve” para chegar, que me levariam provavelmente para outras redes. Resultado: deixei Aix e o sul da França com uma lista de contatos que não puderam ser efetivados.

Aproveito para agradecer a disponibilidade dos 30 brasileiros da região que aceitaram colaborar com a pesquisa, me receberam, conversaram e compartilharam suas histórias comigo! A todos vocês, muito obrigada!!!



A presença brasileira na França pode não ser tão expressiva e intensiva, quanto em Portugal por exemplo, mas sem dúvida ocupa um lugar especial; seja pela forte presença da Capoeira, seja pelos eventos que promovem a cultura brasileira, através de espetáculos de música, dança, etc.

Em Aix, uma cidade cuja população é em cerca de 140 mil habitantes, acontece uma vez por mês uma “soirée brésilienne” com direito a música ao vivo e uma diversidade de ritmos brasileiros.
Em Marseille também é possível sair domingo à noite e ter a oportunidade de escutar música brasileira feita por excelentes músicos - brasileiros bien sûr! -  em um bar que fica na região central da cidade, não muito longe de Vieux-Port.

A presença brasileira em Marseille é notável, inclusive a cidade já teve um Consulado Brasileiro, desativado há alguns anos. Na Fête du Panier, uma grande festa que ocorreu num lugar super interessante de Marseille, que tem esse nome – Panier - e que lembra um pouco Olinda, os brasileiros puderam curtir um forró ao vivo no sábado à noite.

Deixei o sul com a sensação de que ali se pode viver na França e ao mesmo tempo estar mais perto do Brasil...seja em função do sol que aparece com mais força e frequência do que em comparação a outras regiões do país, seja pelo clima mais favorável para aqueles que estão habituados a sentir o calor tropical. 

Mas lá se fica um pouco mais perto do Brasil principalmente em função dos brasileiros e das brasileiras que lá se encontram, e que de uma forma ou de outra se aproximam, tecendo redes de amizade e apoio. Amigos e apoio são sempre necessários, mas são fundamentais quando se está muito longe de casa.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Estudos e pesquisas sobre a imigração brasileira na Europa


Aconteceu em Lisboa, de 4 a 6 de junho de 2012, o 2º Seminário de Estudos sobre Imigração Brasileira na Europa. O evento foi organizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa.

Tive o privilégio de participar da primeira edição do evento em 2010 em Barcelona, privilégio duplicado com a presença nesta segunda edição do evento. O próximo encontro está previsto para acontecer em 2014 em Londres, organizado pelo Grupo de estudos sobre Brasileiros no Reino Unido. 

A realização destes seminários é de extrema relevância, tanto em função do volume de brasileiros que vivem na Europa como também pela emergência de novas configurações e padrões migratórios. 

Estimativas disponíveis sugerem que cerca de 30% dos brasileiros que vivem no exterior está na Europa, aspecto que aumenta a relevância do continente se considerarmos o livro espaço de circulação europeu, e sua potencialidade para inaugurar territórios de passagem, trânsito e de instalação para os brasileiros.

O seminário de Lisboa teve 9 sessões temáticas, que acolheram trabalhos relativos:
1. à migração de jovens e aspectos relacionados ao que se pode chamar 2ª geração;
2. ao retorno para o Brasil diante dos efeitos da crise econômica europeia;
3. aspectos relacionados à saúde;
4. às atividades profissionais e à inserção no mercado de trabalho;
5. aos aspectos relativos ao associativismo e à participação política dos emigrados;
6. às dimensões relativas à interface gênero e migração;
7. às novas tecnologias da informação e comunicação e o uso das redes na dinâmica migratória;
8. às práticas religiosas dos imigrantes brasileiros;
9. aos mecanismos e aos desafios dos casamentos mistos.

Em relação aos países receptores destes imigrantes brasileiros, o seminário evidenciou a preponderância das pesquisas sobre imigração brasileira em Portugal e na Espanha, países que concentram maiores estoques de brasileiros e cujos fluxos são mais consolidados. Por outro lado, o seminário deu visibilidade a pesquisas sobre países ainda pouco estudados no que se refere à migração brasileira, como é o caso da Bélgica, Holanda e Noruega.

Particularmente sobre a presença de brasileiros na França, foi apresentada a pesquisa levada a cabo por Marta dos Santos Silva sobre o casamento misto entre mulheres brasileiras e homens franceses, e um texto de minha autoria sobre a questão dos estudantes brasileiros na França, pensando a questão do retorno e da atualização do projeto migratório que pode se associar à circulação estudantil.

O meu texto foi intitulado “De estudante à migrante: percursos e percalços de brasileiros na França” e reflete sobre aspectos relacionados ao fluxo de estudantes nos últimos anos, tendo em vista a valorização crescente da internacionalização do processo de escolarização e formação profissional e os desafios que advêm da adoção de políticas mais rígidas pelo Estado francês. Este parece estar “enxergando” a circulação estudantil como um “migração disfarçada” e desta forma, vem criando obstáculos cada vez maiores para a concessão de vistos deste tipo.

Neste trabalho, analisei algumas trajetórias migratórias de estudantes brasileiros na França e de ex-estudantes retornados ao Brasil. As considerações vão no sentido de apontar que as fronteiras entre uma circulação estudantil, com uma expectativa temporal pré-definida e orientada pelo tempo de duração de um curso, e uma migração, dinâmica que tem uma expectativa temporal indefinida e mais complexa, podem assumir diversos matizes, com temporalidades cumpridas em alguns casos e atualizadas em outros casos, inclusive resultando no estabelecimento “definitivo” de moradia e constituição familiar na França.

Para quem quiser saber mais, acessar https://sites.google.com/site/seminariobrasileuropa2012/

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Colaboração em pesquisa: você é brasileiro/a e vive na França há mais de um ano?



Sou doutoranda em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IFCH/UNICAMP e pesquiso sobre os brasileiros que vivem na França.


O objetivo da minha pesquisa é entender porque a França foi o país eleito para mudança, neste sentido, busco mapear as conexões que ligam cada um, à França.

Nesta fase da pesquisa estou no sul da França procurando por brasileiros que moram na França há no mínimo um ano (exceto estudantes com bolsa sanduíche).

Pela metodologia adotada pela pesquisa, faço entrevistas que são preferencialmente feitas pessoalmente O procedimento é agendar um horário e local que seja mais conveniente ao entrevistado. 


O objetivo destas entrevistas é registrar a experiência da pessoa, enfim como cada um pensa sobre questões como porque veio pra França, como é a vida na aqui, etc.


Estou à disposição para esclarecer eventuais dúvidas.
Meu email e skype estão abaixo. 
Obrigada!
Gisele



Gisele Maria Ribeiro de Almeida

(Doutorado em Sociologia - IFCH/UNICAMP)


Skype: gisele.maria

http://brasileirosnafranca.blogspot.com

link para CV lattes: http://lattes.cnpq.br/1603247215361238

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Eleições presidenciais na França e o discurso anti-imigração



No último domingo, 22 de abril, foi o primeiro turno da corrida eleitoral presidencial francesa. Sarkozy, que está no Palácio do Eliseu desde 2007, não conseguiu a almejada vitória; é a primeira vez desde 1958 que um candidato à reeleição não obteve sucesso na primeira votação. O contexto não ajudou muito o atual presidente, que vem enfrentando em seu mandato os efeitos da crise financeira e econômica europeia.


Os desafios do futuro presidente são consideráveis. A situação fiscal-financeira do Estado francês pode não ser tão ruim quanto a grega, mas sem dúvida exigirá esforços consideráveis no enfrentamento da questão. Segundo o FMI, o crescimento da economia francesa em 2012 deve ficar em 0,5%. O nível de emprego sofre os efeitos deletérios da crise, principalmente entre os jovens – de 15 a 24 anos – cuja taxa de desemprego segundo o Escritório da Organização Internacional do Trabalho chegou a 25% no terceiro trimestre de 2011. Não tão mal como a Espanha, onde esse número supera os 40%, mas por outro lado longe da situação alemã, cuja taxa de desemprego entre os menores de 25 anos é de 8,5%. Evidentemente, a disputa presidencial não ficou imune frente ao cenário recessivo.


Como é peculiar nestes casos, o discurso anti-imigração veio à tona. Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen líder do partido Frente Nacional, usou e abusou em sua campanha do tema da imigração, e tomou inclusive a redução da imigração legal como um dos principais objetivos de seu plano de governo. Um exemplo da retórica da candidata foi ter afirmado que toda a carne vendida em Paris era preparada seguindo preceitos religiosos islâmicos, fato rapidamente desmentido pelo próprio Ministério da Alimentação.


O resultado alcançado pela candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, corrobora a velha ideia de que em momentos críticos, a ideologia conversadora tradicional tende a ganhar terreno. Le Pen teve um quinto dos votos, de um pleito que contou com a afluência de 80% dos eleitores. Cifra elevada num país em que o voto não é obrigatório.


Sarkozy entrou nesta onda e, em diversas ocasiões fez uso da bandeira anti-imigração para atrair os eleitores mais conservadores. O Ministro do Interior, Claude Guéant, também contribuiu ao debate xenófobo ao disponibilizar dados poucos meses antes do pleito eleitoral que mostravam números recordes de expulsão de estrangeiros em 2011. Em depoimento, Guéant deu ainda declarações nas quais associou imigração à criminalidade.



O candidato socialista, François Hollande, apresentou um discurso mais ponderado sobre a questão imigratória na França. Falou em integração dos filhos de estrangeiros, admitiu que a imigração irregular é inaceitável, mas defendeu a imigração legal e reconheceu a possibilidade de um debate sobre a regularização. Aspecto veementemente negado por Sarkozy, que insistiu no aumento das dificuldades para obtenção da naturalização e dos maiores obstáculos para novas entradas e permanência de estrangeiros em território francês.


O grande vencedor desta primeira fase foi Hollande, cuja campanha se contrapôs ao lema da “França forte” do atual governo, com foco na necessidade de uma mudança imediata na situação. O Partido Socialista de Hollande apostou no desejo de mudança. Vídeos e clips divulgados na rede mundial cantaram a necessidade de transformação e o engajamento dos cidadãos, particularmente dos jovens a partir do seu lema “A mudança é agora”. Cabe lembrar que por muito pouco o candidato socialista não foi Dominique Strauss-Kahn, que era o candidato favorito do partido até um escândalo que o envolveu em crime sexual a partir da denúncia de uma camareira de um hotel nova-iorquino.


Agora estão no páreo apenas Sarkozy e Hollande que tiveram respectivamente 27,1% e 28,5% dos votos no primeiro turno. Há quem diga que o atual presidente não tem chance, em função de sua elevada rejeição. O sociólogo francês Maffesoli é bem menos enfático e acredita que Sarkozy pode sim se reeleger em função de seu apelo emocional.


Os eleitores que votaram em Marine Le Pen da Frente Nacional, um partido de direita, em François Bayrou do Movimento Democrático, filiado a uma ideologia de centro devem definir os rumos do segundo turno, em 6 de maio.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Imigração e crise econômica: uma receita francesa

Não é a primeira vez que uma crise econômica vira argumento do discurso anti-imigração. Com a crise que afeta a Europa, a política francesa parece escolher esse conhecido caminho. Há poucos meses, foi lançada uma lei com o objetivo de diminuir a imigração legal de profissionais.


O contexto francês está ainda mais turbulento pelas eleições presidenciais, previstas para maio do ano que vem. Vários jornalistas têm apontando que as declarações e as ações do atual Ministro do Interior, Claude Guéant, que atingem negativamente os imigrantes e estrangeiros na França, são uma forma de atrair os eleitores da Frente Nacional, partido de extrema-direita francês. Como é de se esperar, para “ganhar” tais cidadãos, o discurso contra imigrantes e estrangeiros é uma estratégia sem risco de fracasso.

Mais uma vez uma conhecida equação vem à tona: mais imigrante e/ou estrangeiro é igual a menos emprego e/ou felicidade geral da Nação.

A política de acolhimento de profissionais estrangeiros passou a ser desde maio mais restritiva, com uma nova lei que institui maiores obstáculos à permanência de estudantes estrangeiros após a conclusão de seu processo de formação acadêmica ou profissional na França.

A nova lei prevê que “o processo para mudança no status (estudantes demandando um visto de trabalho) deverá passar por um controle maior”. Em resumo, o objetivo é limitar a autorização provisória de um visto de trabalho que permite a um estudante estrangeiro, egresso de algum curso no país, procurar trabalho.

É importante lembrar que a medida não afeta apenas a imigração profissional, mas também a política de acolhimento de estudantes estrangeiros. Atualmente, a internacionalização da formação acadêmica e profissional tem sido vista quase como uma “exigência”, estimulada cada vez mais pela busca de elementos distintivos no mercado simbólico dos diplomas – como diz a Profa. Dra. Debora Mazza da Faculdade de Educação da UNICAMP.

Segundo dados da OCDE, a mobilidade internacional de estudantes cresceu exponencialmente nas últimas décadas: eram cerca de 270 mil em 1962 e 1 milhão e 600 mil em 2001. A França é o quarto principal destino dos estudantes em mobilidade internacional, após os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. É por isso que diretores de grandes escolas e reitores de universidades francesas não aceitaram muito bem a medida. A expectativa é que a impossibilidade de permanecer no país após a conclusão dos estudos, vai diminuir o interesse pela França como país de destino para estudar, pois os estudantes darão preferência países mais “receptivos”.

O debate está acirrado, até mesmo porque há quem alegue que com essa medida a França pode perder “cérebros” que ela não deveria, e nem poderia, dispensar. Mesmo quando se trata de mão de obra pouco qualificada, pesquisas realizadas negam o pressuposto que orienta o fechamento das fronteiras aos imigrantes, pois setores específicos da economia encontram dificuldades para o preenchimento das vagas oferecidas. Guéant revida, pois segundo ele, “a França não precisa de imigrantes garçons e pedreiros”, pois os franceses podem e devem ocupar estes postos: “Não se pode recusar para sempre um trabalho normal. Uma pessoa que recusa várias vezes um trabalho normal não deve beneficiar das ajudas públicas”.

Associações de estudantes e universidades tem criticado e se oposto a nova política. Em novembro estudantes foram às ruas para protestar contra a medida. Há promessas de revisão na lei, com vistas a um abrandamento nas formas de procedimento.

Se as coisas estão assim para estudantes da Sorbonne, imagina o que pode acontecer aos imigrantes "iletrados"...