Quem são e como vivem os brasileiros e brasileiras na França?

Gisele Almeida


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

De volta pra casa?

A “chamada” do artigo diz: “Crise força volta de brasileiros”. Em seguida, uma pequena introdução aponta que “enquanto a Europa soma 4 milhões de desempregados desde 2007, a economia brasileira gerou 3 milhões de postos de trabalho no período” (artigo disponível em www.estadao.com.br/noticias/impresso,crise-forca-volta-de-brasileiros,755136,0.htm).



O texto é assinado por Jamil Chade e Edson Xavier (Jornal O Estado de São Paulo de 07 de agosto de 2011).  Realmente, parece que as coisas vão mal na Europa...mas provavelmente isso não significa que outros (e talvez muitos) brasileiros deixem de partir para lá, trabalhar ou estudar, ou simplesmente para “tentar a vida e a sorte”. Muito menos, quer dizer que todos os brasileiros voltarão...

É por isso que nos estudos contemporâneos sobre mobilidade internacional, os autores estão relativizando o peso das variáveis econômicas como causadoras do fluxo. Até o contexto pós guerra, as teorias priorizavam nas análises os aspectos como nível de emprego e de salários.

A abordagem teórica clássica chamada de "push-pull" ou "atração-repulsão" tem como paradigma o pressuposto de que crescimento econômico e recessão geram forças desiguais que tendem a ser equilibradas através das migrações. No entanto, como apontam autores como Douglas Massey (ver Worlds in motion: understanding international migration at the end of the millennium. New York: Oxford University Press, 1998), na era pós industrial, as diferenças salariais tendem a estimular a migração Sul-Norte de forma autônoma em relação aos ciclos econômicos, além de novas modalidades migratórias que não existiam antes como os indocumentados e os refugiados. Atração e repulsão deixam de ser aspectos simples e assumem maior complexidade. O país que atraí pessoas com melhores salários e com maior crescimento econômico pode ser o mesmo que não quer mais receber migrantes e por isso, fecha suas fronteiras. Os custos e os riscos aumentam, inclusive de repatriação forçada. Mesmo assim, as pessoas continuam indo e vindo. É só ver o que ocorre na fronteira mexicana diariamente e isso, cabe frisar, apesar da recessão norte-americana!!!

Tudo isso pra dizer que atualmente precisamos incorporar em nossos estudos a questão da subjetividade. Valorizar mais nas análises os interesses, os anseios e os medos dos indivíduos que se aventuram a viver num outro país. Buscar um salário melhor parece que não é um motivo suficiente, ainda mais se isolado de outras perspectivas.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil , o número de brasileiros vivendo na França aumentou de 60 mil em 2009, para 80 mil em 2010. O número de brasileiros também duplicou, com base nestas estimativas governamentais, na Alemanha e cresceu na Bélgica.

Ora, apesar da crise, temos elementos para pensar que a presença de brasileiros na Europa vem assumindo novo contornos. Claro que isso se explica pela crise econômica de 2008 sobre algumas economias nacionais mas, também, pelas novas possibilidades de circulação que se abrem no espaço Schengen .

Essa realidade traz enormes desafios aos pesquisadores interessados na imigração de brasileiros na Europa.

Como compreender esse fenômeno em sua complexidade? 


Esse é um desafio teórico importante para mim hoje, no caso, aplicado a presença de brasileiros/as na França.