Quem são e como vivem os brasileiros e brasileiras na França?

Gisele Almeida


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Imigração e crise econômica: uma receita francesa

Não é a primeira vez que uma crise econômica vira argumento do discurso anti-imigração. Com a crise que afeta a Europa, a política francesa parece escolher esse conhecido caminho. Há poucos meses, foi lançada uma lei com o objetivo de diminuir a imigração legal de profissionais.


O contexto francês está ainda mais turbulento pelas eleições presidenciais, previstas para maio do ano que vem. Vários jornalistas têm apontando que as declarações e as ações do atual Ministro do Interior, Claude Guéant, que atingem negativamente os imigrantes e estrangeiros na França, são uma forma de atrair os eleitores da Frente Nacional, partido de extrema-direita francês. Como é de se esperar, para “ganhar” tais cidadãos, o discurso contra imigrantes e estrangeiros é uma estratégia sem risco de fracasso.

Mais uma vez uma conhecida equação vem à tona: mais imigrante e/ou estrangeiro é igual a menos emprego e/ou felicidade geral da Nação.

A política de acolhimento de profissionais estrangeiros passou a ser desde maio mais restritiva, com uma nova lei que institui maiores obstáculos à permanência de estudantes estrangeiros após a conclusão de seu processo de formação acadêmica ou profissional na França.

A nova lei prevê que “o processo para mudança no status (estudantes demandando um visto de trabalho) deverá passar por um controle maior”. Em resumo, o objetivo é limitar a autorização provisória de um visto de trabalho que permite a um estudante estrangeiro, egresso de algum curso no país, procurar trabalho.

É importante lembrar que a medida não afeta apenas a imigração profissional, mas também a política de acolhimento de estudantes estrangeiros. Atualmente, a internacionalização da formação acadêmica e profissional tem sido vista quase como uma “exigência”, estimulada cada vez mais pela busca de elementos distintivos no mercado simbólico dos diplomas – como diz a Profa. Dra. Debora Mazza da Faculdade de Educação da UNICAMP.

Segundo dados da OCDE, a mobilidade internacional de estudantes cresceu exponencialmente nas últimas décadas: eram cerca de 270 mil em 1962 e 1 milhão e 600 mil em 2001. A França é o quarto principal destino dos estudantes em mobilidade internacional, após os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. É por isso que diretores de grandes escolas e reitores de universidades francesas não aceitaram muito bem a medida. A expectativa é que a impossibilidade de permanecer no país após a conclusão dos estudos, vai diminuir o interesse pela França como país de destino para estudar, pois os estudantes darão preferência países mais “receptivos”.

O debate está acirrado, até mesmo porque há quem alegue que com essa medida a França pode perder “cérebros” que ela não deveria, e nem poderia, dispensar. Mesmo quando se trata de mão de obra pouco qualificada, pesquisas realizadas negam o pressuposto que orienta o fechamento das fronteiras aos imigrantes, pois setores específicos da economia encontram dificuldades para o preenchimento das vagas oferecidas. Guéant revida, pois segundo ele, “a França não precisa de imigrantes garçons e pedreiros”, pois os franceses podem e devem ocupar estes postos: “Não se pode recusar para sempre um trabalho normal. Uma pessoa que recusa várias vezes um trabalho normal não deve beneficiar das ajudas públicas”.

Associações de estudantes e universidades tem criticado e se oposto a nova política. Em novembro estudantes foram às ruas para protestar contra a medida. Há promessas de revisão na lei, com vistas a um abrandamento nas formas de procedimento.

Se as coisas estão assim para estudantes da Sorbonne, imagina o que pode acontecer aos imigrantes "iletrados"...