Quem são e como vivem os brasileiros e brasileiras na França?

Gisele Almeida


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Eleições presidenciais na França e o discurso anti-imigração



No último domingo, 22 de abril, foi o primeiro turno da corrida eleitoral presidencial francesa. Sarkozy, que está no Palácio do Eliseu desde 2007, não conseguiu a almejada vitória; é a primeira vez desde 1958 que um candidato à reeleição não obteve sucesso na primeira votação. O contexto não ajudou muito o atual presidente, que vem enfrentando em seu mandato os efeitos da crise financeira e econômica europeia.


Os desafios do futuro presidente são consideráveis. A situação fiscal-financeira do Estado francês pode não ser tão ruim quanto a grega, mas sem dúvida exigirá esforços consideráveis no enfrentamento da questão. Segundo o FMI, o crescimento da economia francesa em 2012 deve ficar em 0,5%. O nível de emprego sofre os efeitos deletérios da crise, principalmente entre os jovens – de 15 a 24 anos – cuja taxa de desemprego segundo o Escritório da Organização Internacional do Trabalho chegou a 25% no terceiro trimestre de 2011. Não tão mal como a Espanha, onde esse número supera os 40%, mas por outro lado longe da situação alemã, cuja taxa de desemprego entre os menores de 25 anos é de 8,5%. Evidentemente, a disputa presidencial não ficou imune frente ao cenário recessivo.


Como é peculiar nestes casos, o discurso anti-imigração veio à tona. Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen líder do partido Frente Nacional, usou e abusou em sua campanha do tema da imigração, e tomou inclusive a redução da imigração legal como um dos principais objetivos de seu plano de governo. Um exemplo da retórica da candidata foi ter afirmado que toda a carne vendida em Paris era preparada seguindo preceitos religiosos islâmicos, fato rapidamente desmentido pelo próprio Ministério da Alimentação.


O resultado alcançado pela candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, corrobora a velha ideia de que em momentos críticos, a ideologia conversadora tradicional tende a ganhar terreno. Le Pen teve um quinto dos votos, de um pleito que contou com a afluência de 80% dos eleitores. Cifra elevada num país em que o voto não é obrigatório.


Sarkozy entrou nesta onda e, em diversas ocasiões fez uso da bandeira anti-imigração para atrair os eleitores mais conservadores. O Ministro do Interior, Claude Guéant, também contribuiu ao debate xenófobo ao disponibilizar dados poucos meses antes do pleito eleitoral que mostravam números recordes de expulsão de estrangeiros em 2011. Em depoimento, Guéant deu ainda declarações nas quais associou imigração à criminalidade.



O candidato socialista, François Hollande, apresentou um discurso mais ponderado sobre a questão imigratória na França. Falou em integração dos filhos de estrangeiros, admitiu que a imigração irregular é inaceitável, mas defendeu a imigração legal e reconheceu a possibilidade de um debate sobre a regularização. Aspecto veementemente negado por Sarkozy, que insistiu no aumento das dificuldades para obtenção da naturalização e dos maiores obstáculos para novas entradas e permanência de estrangeiros em território francês.


O grande vencedor desta primeira fase foi Hollande, cuja campanha se contrapôs ao lema da “França forte” do atual governo, com foco na necessidade de uma mudança imediata na situação. O Partido Socialista de Hollande apostou no desejo de mudança. Vídeos e clips divulgados na rede mundial cantaram a necessidade de transformação e o engajamento dos cidadãos, particularmente dos jovens a partir do seu lema “A mudança é agora”. Cabe lembrar que por muito pouco o candidato socialista não foi Dominique Strauss-Kahn, que era o candidato favorito do partido até um escândalo que o envolveu em crime sexual a partir da denúncia de uma camareira de um hotel nova-iorquino.


Agora estão no páreo apenas Sarkozy e Hollande que tiveram respectivamente 27,1% e 28,5% dos votos no primeiro turno. Há quem diga que o atual presidente não tem chance, em função de sua elevada rejeição. O sociólogo francês Maffesoli é bem menos enfático e acredita que Sarkozy pode sim se reeleger em função de seu apelo emocional.


Os eleitores que votaram em Marine Le Pen da Frente Nacional, um partido de direita, em François Bayrou do Movimento Democrático, filiado a uma ideologia de centro devem definir os rumos do segundo turno, em 6 de maio.